Por trás de minúsculas telas ou a olho nu, dezenas de curiosos acompanharam a transformação do Mickey do Centro, que ganha a vida posando para fotos e cuja história ficou conhecida a partir de um post no Facebook, semanas atrás. Em uma ação organizada por voluntários, ele chegou aplaudido em meio à apresentação de uma espécie de Carreta Furacão à moda Disney – com Pateta, Pluto, Minnie e outro Mickey remexendo os quadris ao som de funk e axé music – e foi surpreendido por um presente que desejava há tempos: uma fantasia de Pato Donald.
– Ele está bem faceiro. Achava que não era ninguém, e agora, como diz, tem muitos amigos – conta o irmão caçula, Andriel Pires, 25 anos.
Andriel conta que a vestimenta do pato famoso não foi a única recebida por Clóvis desde que, depois de quase uma década trabalhando fantasiado no Centro, virou notícia de jornal. Além de roupas de outros personagens, alimentos, dinheiro e material para a construção do sonhado quarto na casa onde vive com o irmão, a sobrinha, a cunhada e a mãe dela, têm chegado à família.
– O WhatsApp não para. Nesta semana, levaram ele para conhecer a Arena, no jogo do Grêmio. A gente não tem palavras para agradecer o que as pessoas têm feito por ele – diz a irmã Ariadne Pires, 30 anos.
O evento que reuniu fãs, familiares e desavisados em um dos pontos mais movimentados do centro da Capital foi planejado por Thayana Barros, empresária que tomou conhecimento da história de Clóvis pela reportagem de Zero Hora e resolveu dar sua contribuição. Com a fala e a locomoção dificultadas por um acidente sofrido na infância, Clóvis expressou sua gratidão com um sorriso tímido e o olhar marejado quando, com as cabeças dos dois personagens em mãos, posou para mais fotos.
– Vi na internet que ele queria a fantasia do Pato Donald, e, como tinha uma disponível, resolvi ajudar. Ele tem algo em comum com os animadores de festas de criança, que é realmente gostar do que faz. Espero que as pessoas se aproximem e contribuam com ele – disse Thayana, que trabalha com eventos infantis e corporativos.
Contribuições foram além do preço fixo
Inaugurada minutos depois de ser entregue ao Mickey do Centro, a nova fantasia coube quase perfeitamente em Clóvis – o pé de pato teve de ser descartado por não encaixar em um dos seus pés, afetado pela lesão de criança. Outros voluntários participaram do evento, recolhendo dinheiro e doações para o morador de Alvorada, que trabalha de terça-feira a domingo e cobra R$ 0,50 por foto – o que arrecada vai direto para uma inseparável pochete presa sobre a fantasia.
Nesta sexta-feira, no entanto, a cobrança de fotos não foi feita como de costume. Com câmeras amadoras e profissionais disputando uma foto do, naquele momento, Pato Donald do Centro, ficou impossível controlar: enquanto alguns posaram para fotos sem deixar contribuição, outros tantos deram bem mais que o preço fixo. Parado atrás de Clóvis com um sorriso de uma orelha à outra, o músico Marcelo Astiazara levou roupas, dinheiro e um coração reconfortado pela mobilização em torno do carismático personagem:
– Já tinha ajudado com dinheiro, mas nunca tinha posado para foto. Conheci ele quando ficava na Voluntários (da Pátria). Eu ava por ele e via pessoas rindo, fazendo piada com a fantasia dele, que era mais simples. Fiquei feliz em ver que, agora, tem uma campanha para ajudá-lo – disse.
